sábado, 2 de maio de 2009

PARA NÃO DIZER QUE NAO FALEI DE...MÚSICA!

Confesso que o meu forte não é música, embora goste bastante. E, no momento em que o mundo vive um momento de medos e incertezas devido a crise econômica e ao surgimento da possível pandemia da influenza A ( H1N1), mais conhecida como “gripe suína”, nada melhor para relaxar do que ouvir uma boa música. Eis algumas sugestões de bandas, duos e cantores que estou ouvindo no momento. Espero que curtam.

TELEFON TEL AVIV- caminhou longe nos holofotes nestes dez anos de estrada, mesmo tendo surgido na explosão da música eletrônica enquanto produto pop no início dos anos 00. O último álbum do duo, surgido em Chicago e depois relocado para Nova Orleans, é sensacional Immolate Yourself. Confira em http://www.youtube.com/watch?v=GvK2Tk42xsM







GLASVEGAS - com sua cidade natal Glasgow no nome, o quarteto escocês Glasvegas lançou seu álbum de estréia em novembro de 2008.
Confira em http://www.youtube.com/watch?v=CMT418TyRiA








SIA- Seu nome é Sia Kate Isobelle Furler também conhecida como Sia, é uma cantora pop australiana. Suas obras mais famosas são as colaborações com o grupo inglês Zero 7 e seus três álbuns solo de estúdio. Confira em http://www.youtube.com/watch?v=U6PGrub3jUc





TÓKIO HOTEL - é uma banda de rock alemã composta por Bill kaulitz (vocalista) Tom kaulitz (guitarrista, irmão gémeo de Bill nascendo 10 minutos antes), Gustav Schäfer (baterista) e Georg Listing (baixista) .Os Tokio Hotel lançaram o seu 1° CD em 2005, em torno do seu sucesso repentino desde 2005 já ganharam 42 prêmios nacionais e internacionais em 3 anos e foram a primeira banda alemã a ser nomeada e ganhado um VMA ( Vídeo Music Alwards) nos Estados Unidos em 2008.Já venderam cerca de 6 milhões de discos e DVDs no mundo, 3 milhões somente na Alemanha. Confira em http://www.youtube.com/watch?v=j3aIBrGfVw0


HERCULES AND LOVE AFFAIR- Hercules tem uma ponta de estilos americanos, mas faz seu próprio som, assim como os bons artistas dessa nossa atual conjuntura pós-moderna. Indefinível em uma palavra apenas. Hercules é funk/soul/groove/disco/house. Ah, e hype também. Mas no fim das contas isso nem é tão importante assim para nossos ouvidos.
Confira em http://www.youtube.com/watch?v=p4x9XrMRjgQ




METRONOMY- É uma banda inglesa que em 2006, lançou o seu álbum de estréia, o irregular porém surpreendente Pip Paine. O Metronomy, projeto de Joseph Mount, tem sua gama de influências bem marcadas - você consegue ouvir um pouco de David Bowie, Devo, Talking Heads e Human League, no entanto, ela sempre passa pela grossa lente distorcida de Joseph e acaba saindo uma pequena obra com traços de tudo, mas com cara de Metronomy. Confira em

terça-feira, 21 de abril de 2009

UM CASO DE CONFIANÇA E O MEDO NA CIDADE: O SELF SERVICE, O ENGRAXATE E A ASSISTENTE SOCIAL

Antes falar diretamente sobre o assunto vamos ao significado ( retirado da wikipédia, é bom lembrar!!!) dos termos que compõem o subtítulo deste post:


Self service (em inglês: serviço próprio, ou de si) é uma manifestação do setor terciário. Descreve a prática que serviços de estabelecimentos não são prestados por empregados e sim efetuados ( em partes ou completo) pelos próprios clientes ou consumidores com a intenção de baixar custos ou alcançar uma melhor disponibilidade no mercado .






Engraxate- A tradição remete ao ano de 1806 o nascimento do ofício de engraxate, quando um operário poliu em sinal de respeito às botas de um general francês e foi recompensado com uma moeda de ouro por isto.
Durante a Segunda Guerra Mundial
apareceram os “sciusciàs”, garotos que para ganhar qualquer coisa lustravam as botas dos militares, além de terem cópias de jornais, goma de mascar e doces. Ao término da guerra desapareceram o sciusciàs e também os engraxates de Nápoles, no início dos anos cinqüenta eles eram apenas mil. Hoje em dia, caminhando pelas ruas napolitanas, ocasionalmente, pode-se encontrar algum. Após a imigração italiana aparece, por volta de 1877, na cidade de São Paulo, os primeiros engraxates. No início eram poucos, de 10 a 14 anos, todos italianos e percorriam as ruas, das 6 horas da manhã até a noite, com uma pequena caixa de madeira com suas latas, escovas e outros objetos.




Assistente Social - é o profissional graduado pela faculdade de Serviço Social que, privilegiando uma intervenção investigativa, através da pesquisa e análise da realidade social, atua na formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas sociais que visam a preservação, defesa e ampliação dos direitos humanos e a justiça social. A diferença entre Assistência Social e Serviço Social foi pela primeira vez estabelecida no início do século 20, por Mary Richmond, uma assistente social norte-americana. Fazer Serviço Social implicava em trabalhar a personalidade das pessoas e o seu meio social e não apenas prestar uma ajuda material aos pobres. Assim, cabia ao assistente social determinar a história individual da formação da personalidade de seu cliente; estudar e investigar o meio social daquela pessoa, através de entrevistas, conversas informais, visitas domiciliares a amigos, professores, patrões etc. Observando, anotando e fazendo relatórios minuciosos, este profissional obteria um diagnóstico e tentaria descobrir uma forma de conseguir a ajuda do meio social para a sua causa. A isto, Mary Richmond denominou de compreensões: compreensão do meio social e compreensão da personalidade
Mas você, deve estar se perguntando como estes três termos podem estar relacionados, certo? Bem... a princípio não estão, mas após um relato de uma amiga minha, comecei a querer encaixa-los em minha mente como um quebra-cabeças ! E gostaria de compartilhar esse relato com vocês, pois me levou a mais uma refletixão acerca do momento que a sociedade brasileira está vivendo, principalmente a Cidade do Rio de Janeiro.

Embora eu seja uma pessoa que goste de refletir, de ler, de ir ao cinema e de tomar iogurte de graviola, tenho poucos amigos. Mais me orgulho de ter uma grande amiga chamada Dayse, que, além de gostar de jogar cartas pela internet, acreditar em Ganesha e de comer saladas e coisas integrais, também é assistente social. Andar com ela pelas ruas da Lapa é uma experiência interessante, pois sempre em nossas saídas ela é reconhecida por seus "ex-usuários", os quais muitas vezes, mesmo estando sujos, embriagados ou em condição de prisão semi-aberta, querem conversar ou simplesmente dar-lhe um abraço, o qual ela retribui carinhosamente.

Dayse tem 42 anos e um histórico de vida e de profissão invejávéis, o que daria tema para outro post. Mas, há exatamente dois dias atrás, fiquei ainda mais seu fã após um fato que ocorrera com ela em seu horário de almoço.


O que aconteceu foi o seguinte: enquanto ela estava almoçando em um restaurante self service, no bairro de Vila Isabel, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, um jovem engraxate se aproximou dela, visto que o restaurante não era desses que os clientes ficam isolados da rua, e perguntou se ela poderia lhe pagar uma refeição, pois o mesmo trabalhara a manhã toda e estava faminto. Dayse, mesmo não sendo adepta do assistencialismo e sabendo que pegar uma refeição não iria mudar a condição de (não) existência deste jovem engraxate, disse-lhe:

- Claro que eu pago meu querido! Pegue um prato, sirva-se a vontade e sente-se aqui comigo.

O que poderia ser um fato simples acabou virando quase um caso de polícia!

Após pegar o prato com o objetivo de selecionar o seu alimento, o jovem não pôde continuar sua ação devido a intervenção da "Dona do estabelecimento", que, perplexa diante da presença do jovem disse-lhe grosseiramente:
- Aqui você não come! Se quiser faz um quentinha e come lá fora!

Após esse posicionamento da " Dona do restaurante", Dayse parou de comer sua tradicional salada e começou sua intervenção, não se posicionando como assistente social. Naquele momento ela se posicionou como uma pessoa que, indignada com o preconceito sofrido pelo jovem engraxate, não aceitou as condições impostas pela dona do self service. Ela disse a essa senhora que ela não poderia tratar ninguém assim, e que ela iria pagar pelo que jovem engraxate viesse a consumir em seu estabelecimento. Mesmo assim, a senhora foi irredutível e começou a tentar se justificar com argumentos do tipo: ele está com as mãos sujas, ela está sem camisa, etc...Minha amiga contra-argumentou dizendo que se estes fossem os "reais" problemas, o jovem em questão poderia lavar as mãos antes de se servir, ele poderia colocar sua camisa etc. Mas o que não poderia ocorrer era estes "fatos" serem obstáculos para que ele ali almoçasse. Mas de nada isso adiantou. A senhora continuou irreditível em seu posicionamento, dizendo que ele ali não comeria. Então Dayse disse a tal senhora que, mediante sua atitude "inflexível", simplesmente iria chamar a polícia pois o que ela estava fazendo não era correto, pois estava claro sua atitude de discrimição e preconceito para com o outro, o que fere, indiscutivelmente, nossa Constituição.

No meio desse desententimento entre as partes, uma funcionária do estabelecimento, sai de fininho e atravessa a rua em direção a um morro, muito famoso por sinal, que fica ali próximo. O jovem engraxate observando atento a tudo, e num primeiro momento se prontificando em esperar a presença da polícia, resolve em um gesto súbido, ir embora. Ele agradece à minha amiga sua atitude de solidariedade e se vai... Dayse ainda tenta convencê-lo em esperar pois ela iria realmente chamar os policiais. Mesmo assim ele prefere ir embora. Não é difícil compreender a atitude deste jovem. Afinal, ele deve morar pela vizinhança e sabe muito bem que a saída da funcionária do self service em direção ao morro tinha uma intenção, que era chamar representantes de um "outro poder", o que por sua vez acabou por intimidá-lo.

Minha amiga, percebeu que aquele episódio estava tomando proporções maiores e que também poderia estar correndo um risco ao chamar a polícia, pois ao acionar o poder policial poderia estar mexendo com esse "outro poder", o qual domina uma territorialidade bastante considerável da cidade do Rio de Janeiro e não vê com bons olhos a presença policial , pelo menos em relação as atividades de repressão.

Como não teria mais a vítima para testemunhar, visto que o jovem fora embora. Dayse disse a dona do restaurante que iria pessoalmente a delegacia dar queixa. Foi nesse momento que minha amiga percebera uma conversa ao celular bastante intrigante . Ou seja, a dona do estabelecimento estava descrevendo as características físicas de minha amiga para uma terceira pessoa. A partir daí algumas interrogações foram tomando conta de Dayse: com quem a dona do restaurante estava falando ao telefone? Por que ela estaria passando suas características físicas para alguém?
Com certeza, o interesse por parte da dona do restaurante em descrever as características fisicas de minha amiga para alguém não era para que essa pessoa jogasse cartas com Dayse pela internet ou pensasse em adicioná-la no Orkut ou no MSN.

Após rápidas reflexões consigo mesma acerca da situação em que se encontrava, um misto de racionalidade e emoção tomou conta de Dayse. Ela ficou literalmente em uma encruzilhada: ir para casa ou para a delegacia? Deveria tentar, mesmo que sozinha, contribuir para uma mudança de racionalidade preconceituosa ou se calar mediante ao medo que nos assombra ao mexermos com determinadas causas sociais que parecem sem solução? Tomar uma atitude ou se conformar com o status quo em que vivemos?

Bem... se Dayse foi movida pela razão ou pela emoção eu deixo para vocês pensarem, pois o final dessa história depende de todos nós, visto que, essa pequena história, pode ter finais diferentes dependendo da nossa consciência social. Afinal, em nossa sociedade, centenas de pessoas são excluídas diariamente. E nós? Na mesma situação em que se encontrara Dayse, que atitude tomaríamos?

Embora esse episódio retrate apenas um fato isolado, somado a tantos outros desagradáveis que assolam nosso cotidiano, eles nos ajudam a refletir sobre esse cenário sombrio que em não vi(vemos) e somos quase que obrigados escolher "pratos leves" em meio a esse grande self service de mazelas sociais, pois o preço a pagar com "pratos cheios" de atitudes que colocam em primeiro lugar o respeito ao ser humano pode sair muito caro logo de imediato. Mas o preço a pagar por "prato leves" também pode ser muito caro, mesmo indiretamente e a longo prazo, visto que nossa forma de encarar com naturalidade certos problemas sociais, não agindo, não nos percebendo enquanto sujeitos sociais, acaba nos tornando reféns de vários tipos de medo. Parece imperar sobre nós uma mixofilia, como nos aponta o sociólogo polonês Zygmunt Bauman em seu mais recente livro " Confiança e medo na cidade", publicado aqui no Brasil pela Jorge Zahar.

Devemos pensar com responsabilidade na hora de escolher nosso "prato", não esquecendo de "pesá-lo" de acordo com nossa consciência social .

Talvez assim conseguiremos digerir melhor o que acontecendo em nossa volta e quem sabe, até transformá-la.